RESUMO:
As ciências sociais tendem a utilizar o conceito de cuidado para abordar situações de privação. Porém, na existência relacional quotidiana, cuidado é referido para descrever processos e sentimentos entre pessoas que cuidam umas das outras em várias dimensões da vida social e que não se encontram necessariamente em situações de carência. Nesta comunicação discutirei diferentes dimensões do cuidado a partir de trabalho de campo em Portugal que atravessa uma situação de crise económica e social e onde as pessoas (re)tomam vias informais para lidar com situações de carência. A iniciativa pessoal, imbuída da moralidade do "cuidado" e do bem comum, torna-se central e fator de sustentabilidade tanto a nível económico (provendo a pessoas necessitadas) como emocional (bem-estar). As relações interpessoais e as relações motivadas por sentimentos e ideais de bem geral são portanto centrais para a reprodução do futuro do sistema social mundial de mercado económico global em que vivemos.
Antónia Pedroso de Lima
Doutorada em Antropologia pelo ISCTE (2001) é professora no Departamento de Antropologia do ISCTE, onde leciona desde 1989, e atualmente é presidente do Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA).
As suas áreas de especialização são: relações familiares em sociedades contemporâneas, relações sociais em contextos urbanos, elites, empresas familiares, género, sexualidade, cuidado, emoções, migrações e património imaterial. Coordenadora de vários projetos de investigação científica, Antónia Pedroso de Lima tem diversas publicações em livros e revistas nacionais e internacionais sobre a família portuguesa em contextos urbanos, tendo como objetos de análise contextos tão diversificados como os bairros populares de Lisboa e as famílias da elite empresarial portuguesa. Atualmente, a sua pesquisa orienta-se para a área do cuidado e das situações de crise e precariedade.
Parceiros do Evento: UTAD - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro ;
Programa do Evento: SPID - O cuidado como elemento de sustentabilidade em contextos de crise: Precariedade e a importância das relações interpessoais